A constituição do Movimento 12 de Março por iniciativa dos promotores da manifestação de 12 Março para assim darem continuidade ao sentido desta mobilização cívica deve ser saudada. É um passo positivo para incorporar de modo permanente no combate cívico todos quantos hoje, sem e com partido, são profundamente afectados pelas políticas neoliberais da desigualdade, da precariedade e da insegurança e querem unir forças para colocar a política ao serviço das pessoas e não dos “mercados financeiros”.
Formulo um voto: que haja a lucidez bastante por parte dos promotores para que este Movimento seja rigorosamente e apenas de adesão individual. A chamada “sociedade civil” em Portugal é demasiado frágil e demasiado dependente dos aparelhos partidários para que uma boa ideia e um bom projecto, se nele participarem organizações sociais e partidos, não corra o risco de rapidamente se converter em arena para a medição de forças e de influências organizadas, directamente pelos partidos ou por interpostas organizações. A experiência do Fórum Social Português, juntando no mesmo plano, no seu debate e funcionamento interno, participantes a título individual, partidos, sindicatos e outras organizações sociais, mostrou exactamente as fragilidades desse tipo de soluções no contexto da nossa realidade social e da cultura política dominante.
Não se entenda esta opinião como discurso antipartidos. Estes são necessários à democracia política. Como o são as organizações sociais. Todos têm os seus planos e dimensões próprias de intervenção.
Todavia, a realidade social e política concreta em que nos movemos em Portugal tem mostrado que é mais fácil e possível, em projectos cívicos e de cidadania activa que se pretendam efectivamente plurais e unitários (estando embora esta palavra gasta, também por utilização indevida), conseguir o diálogo e a cooperação entre pessoas, com e sem partido, do que metendo dentro dos projectos, juntamente com a participação individual, também a representação de organizações sociais e partidos. Porque estes arrastam consigo, nessa representação, a vinculação orgânica dos indivíduos e a inevitável guerra de posições pelo domínio das balanças de poder e das orientações.
Certamente é importante que partidos, sindicatos, outras organizações, apoiem o Movimento 12 Março e a sua acção. Mas que este saiba crescer prolongando organicamente aquilo que de mais notável teve a manifestação de 12 Março: a capacidade de cidadãos de várias gerações, à rasca, terem decidido por opção própria de cada um, desfilar em conjunto, sem fronteiras nem barreiras ideológicas.
[…] O Movimento 12 de Março é uma boa nova, dando sentido organizado e de futuro ao potencial de indignação e de participação que as manifestações constituíram (sobre este projecto também já escrevemos aqui). […]
Bela análise do colete de forças que tem minado a participação dos cidadãos nos movimentos cívicos.