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Posts Tagged ‘Warren Buffett’

Um dos capitalistas mais ricos do mundo, Warren Buffett (também principal accionista da agência Moody’s, a tal que por cá provocou um levantamento patriótico), chamou a atenção num artigo no New York Times (ver notícia aqui) para a profunda injustiça fiscal do sistema tributário dos EUA, que lhe permite pagar apenas 17% sobre os seus rendimentos anuais, enquanto os seus empregados pagam uma taxa bem maior. E apelou ao Congresso norte-americano para deixar de acarinhar os muito ricos como ele e aumentar a sua tributação, anulando a medida que aprovaram de manter o corte de impostos decidido por Bush que beneficiou os titulares de rendimentos acima de um milhão de dólares e os beneficiários de ganhos de capital e de dividendos.

Warren Buffett, insuspeito de ser um perigoso revolucionário e agitador social, é o mesmo que há algum tempo, também denunciando a profunda injustiça do sistema fiscal, declarava lucidamente “There’s class warfare, all right, but it’s my class, the rich class, that’s making war, and we’re winning” ou, em tradução livre: “claro que há luta de classes, mas é a minha classe, a classe dos ricos, que está a fazer a guerra e estamos a ganhá-la” (ver aqui a notícia de então do New York Times). E recordamos que os republicanos, e a sua extrema-direita populista do Tea Party, estão na primeira linha da oposição (com “democratas” à mistura…) ao aumento dos impostos sobre os muito ricos, tendo recusado a proposta de Obama, que também nem é nenhum perigoso esquerdista, como se tem visto.

Será pedir muito aos governantes ultraliberais de cá, aos “Passos”, “Vítor”, “Álvaro”, que não queiram ser mais papistas do que o papa e que se deixem da treta de que quanto mais ricos os ricos forem, mais rico será o País também, cartilha neoliberal conhecida com que nos têm embalado estes e outros de má memória desde há muito?

Então os 25 mais ricos de Portugal na lista publicada pela Exame (ver aqui) não aumentaram a sua fortuna num ano em mais 17,8% (somam 25 400 milhões de euros nas suas fortunas pessoais conhecidas), enquanto a maioria dos portugueses empobreceu com a baixa ou o congelamento dos salários, com a subida dos impostos, com o agravamento da inflação, com os cortes sociais, com o aumento das taxas de juro, com o aumento do desemprego e da precariedade?

E que fazem os mais ricos por cá?

Américo Amorim, considerado o mais rico, um dos patrões da Galp e do BIC a quem o Governo entregou numa nbadeja, limpo de encargos o BPN cujo roubo será pago pelos contribuintes, escapa ao pagamento dos impostos em Portugal, recebendo os fartos dividendos da Galp que nos explora (cujos lucros em 2010 subiram em 43%, para 306 milhões de euros) através de uma sociedade sediada na Holanda. O segundo mais rico, Alexandre Soares dos Santos (do grupo Pingo Doce), é o tal que converteu em operação publicitária de promoção do grupo e da sua “consciência social” a “descoberta” de que existem 1 100 trabalhadores desse grupo de supermercados a viver em situação de carência e pobreza extremas, apesar de ainda terem trabalho. Aos quais promete apoios e esmolas várias (ver aqui), mas a quem recusa o essencial – melhorar a repartição da riqueza criada, aumentar significativamente o salário médio miserável praticado nos seus supermercados (540 euros) e reduzir assim o sufoco financeiro de quem não pode esticar até ao fim do mês o que não tem. E os bancos, senhor? Esses pagaram apenas 12,5% de IRC (menos 63% do que no ano anterior), coitados, porque só acumularam 1 000 milhões de euros de lucros no ano de 2010, segundo a Associação Portuguesa de Bancos que não nos deixa mentir.

Quando Warren Buffett diz o que diz sobre a injustiça fiscal neste mundo capturado pelos mercados de que é parte, e até a Merkel e o Sarkozy querem uma taxa sobre as transacções financeiras (e o parlamento francês votou favoravelmente essa proposta por esmagadora maioria), a direita portuguesa continua a querer bater com as (nossas) cabeças na parede, porque não desiste de ser mais papista que o papa, de ser mais “bom aluno” do que lhe exigem, de ir “mais além”. Os resultados começam a ver-se, apesar do calor de Agosto, da irrelevância socialista e da anemia da esquerda.

Será que as vozes dos ricos lá de fora chegarão mais depressa aos céus? Mal não faria. Mas o melhor mesmo é não desistirmos de nos mexermos e fazermos a nossa parte da caminhada.

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